Março
1) O Crematório Frio - József Debreczeni
Esse livro foi escrito em 1950, mas só agora foi traduzido do húngaro para outras línguas e, desde então, recebeu um destaque enorme, com direito a uma posição na lista de melhores leituras de 2024 do New York Times. Um relato cru e extremamente pesado sobre os horrores dos campos de concentração, o terror e o medo vivenciado pelos judeus, forçados a abandonar suas vidas e despidos de tudo que diz respeito à suas identidades, para viver o pesadelo da Segunda Guerra Mundial. Desde que li “O Diário de Anne Frank” quando adolescente, me vejo sempre interessada nesses relatos sobre as experiências vividas durante o nazismo e acho de extrema importância continuarmos produzindo e consumindo arte sobre esse episódio, principalmente para novas gerações, para que ele jamais seja esquecido e repetido.
2) Anatomia de um julgamento - Ifigênia em Forest Hills - Janet Malcolm
Meu encantamento com os textos da Janet Malcolm começou com a leitura de “A Mulher Calada”, uma investigação sobre a vida de Sylvia Plath a partir de todas as biografias escritas sobre ela. E a admiração permaneceu após a leitura de “O Jornalista e o Assassino”, em que ela destrincha a história de um médico que é acusado de matar sua esposa e as duas filhas. Então é sempre uma experiência interessante ler mais um livro dessa autora. Nesse, ela irá contar sobre o julgamento de uma médica que é acusada de contratar um homem para matar seu marido após perder a guarda da filha. A forma como ela escreve e as análises que faz diante desses casos criminais criam experiências de leitura que puxam o leitor para dentro da história e o convocam a tirar suas próprias conclusões diante dos fatos.
3) Intermezzo - Sally Rooney
Sally Rooney tem uma forma de fazer com que o leitor se envolva com seus personagens e as aflições que os cercam. Nessa história temos dois irmãos, Ivan e Peter, que acabaram de perder o pai e estão vivendo o luto cada um a sua forma. É bonito ver nas histórias da autora como os personagens não são uma coisa só, tornando-os reais e falhos como qualquer ser humano. Acompanhamos então os dois, muito diferentes um do outro, vivendo o luto, buscando quem realmente são no mundo e tratando dessa relação fraternal complexa, repleta de amor, raiva e admiração.
Abril
1) O Livro do Xadrez - Stefan Sweig
Nessa história curta e a última escrita pelo autor, vamos acompanhar Zweig em sua longa jornada de exílio durante a Segunda Guerra Mundial, em um navio de Nova Iorque para Buenos Aires juntamente com o campeão mundial de xadrez, Mirko Czentovic. Na busca por contato com esse homem peculiar, o autor acaba conhecendo outro jogador de xadrez, com uma história obscura relacionada à mesma guerra da qual eles estão fugindo. Criando analogias do jogo com a Guerra, o autor relata uma história que possivelmente expressa seus sentimentos de descrença com a humanidade naqueles últimos momentos antes de seu suicídio.
2) Franny & Zooey - J. D. Salinger
Como muitos, conheci Salinger pelo famoso “O Apanhador no Campo de Centeio” e, mesmo dividindo opiniões, foi uma história que ficou na minha memória por um bom tempo. Nesse livro, temos dois contos do autor, com esses dois personagens que fazem parte da família Glass. Eu gostei de “Franny” e da trama que cerca as reflexões dessa menina sobre o mundo e as pessoas a sua volta. Em “Zooey”, o que se destacou mais para mim, foi a relação do personagem com sua mãe e luto que paira sobre os moradores daquela família. Salinger tem uma forma muito característica de escrita e é ela que se sobressai nessas histórias.
E essas foram as leituras dos últimos meses. Acho curioso como, de forma inconsciente, acabei escolhendo um livro que se relaciona com outro e li dois livros sobre a Segunda Guerra e dois sobre xadrez, sem nem saber exatamente como funciona o jogo. E isso é muito bonito na literatura. Fique à vontade para me contar o que você leu nos últimos tempos. Até a próxima!